Na sequência da Exposição sobre o tema no salão do URDA nos anos 80, [1] vamos apresentar de forma faseada este Estudo mais atualizado da história das dinâmicas associativas em Arranhó. [2]
5 – A Música, as Marchas e Récitas, o Futebol, e as Cegadas dos Anos 50
O País conhece uma fase de crescimento por esta época, embora permanecendo a pobreza, e a aldeia de Arranhó, como bem a descreveu Irene Lisboa no seu livro Apontamentos: «parece uma terra próspera, com muitas janelas de vidros e algumas casas modernas na estrada de Lisboa». [16]
E realmente os arranhoenses, sempre resilientes e trabalhadores, continuam a procurar reagir contra as condições de pobreza da época. É uma fase em que está florescente a indústria de manufatura de calçado. É uma fase em que se desenvolvem os ferro-velhos, surgem as primeiras camionetas, surge o Matadouro industrial, os primeiros industriais de madeiras e de obras públicas, a indústria de salsicharia e carnes verdes. A aldeia tem vários estabelecimentos de mercearia, fanqueiro, e, algumas tabernas, onde acorrem pessoas das redondezas.
Todo este ambiente favoreceu várias dinâmicas recreativas, culturais, e desportivas na aldeia que por sua vez fortaleceram os laços comunitários..
5.1- A Música Renova-se
Apesar das dificuldades que obrigam os diretores a quotizar-se entre si por falta de verbas em Novembro de 1949 consegue-se juntar um novo lote de entusiastas no estudo do solfejo, de novo sob a batuta do Mestre Mário Martins.
E no Verão de 1950, mais propriamente a 13 de Agosto, elegantemente fardados de casaco branco, calça castanha, camisa branca, e gravata azul sai para as ruas da terra a Orquestra Os Bem Entendidos de Arranhó.
A nova Orquestra é constituída por:
Álvaro Assis Lourenço – saxofone alto
António Barros – trompete
Evaristo Jacinto Luis – clarinete
António Soares – saxofone soprano
José Rodrigues Gonçalves – saxofone soprano
Francisco Lourenço Pulga – bateria
Luis Raimundo Reis – bateria
Domingos Munhoz Frade – saxofone alto
Domingos Sousa Luis – trombone
José Raimundo Luis – trompete
Mário Martins – Mestre, saxofone alto e clarinete
Nos bailaricos tornam-se um êxito modinhas como a “Grande Marcha de 1950”, o “Vira do Carnaval”, o “Vira das Romarias”, o “Papai Adão”, e, a inesquecível “Marcha de Arranhó”.
Merece particular realce um marco excecional, o Mestre Mário Martins escreveu a música do intemporal “Hino da Sociedade Arranhoense”, que passará a ser tocado a partir de então em todos os momentos solenes da vida associativa em Arranhó.
Os Bem Entendidos de Arranhó levam a sua música a todo o lado, de Arruda dos Vinhos a Ajuda, à Malveira, a Louriceira de Cima e a Arranhó de Baixo. Todas grandes jornadas de sucesso. Mais uma vez a população rejubila com a sua música e não regateia os seus aplausos.
A mobilização dos mancebos para a tropa, e a saída para a capital ou na beira Tejo em busca de trabalho e uma vida melhor, virão a tornar impraticável a continuação da orquestra.
5.2- As Marchas Mobilizam e Encantam
Além dos muito apreciados e concorridos bailes na Sociedade, vive-se um período de intensa atividade cultural nessa altura, com a preciosa colaboração duma das filhas do maestro Mário Martins, a Maria de Lurdes Martins.
Destacam-se desta época grandes iniciativas como as Marchas do Carnaval, que ficaram na memória de toda a gente, através de inesquecíveis números como a ‘Marcha de Arranhó’, e de cantigas notáveis como a ‘Ceifeira e o Cavador’ e a ‘Marcha do Carnaval’. As letras eram da Maria de Lurdes Martins e a música de Mário Martins.
A 9 de Abril de 1950 (Domingo de Páscoa) realizou-se um inesquecível espetáculo na sede da Sociedade.
Daqueles que então participaram e dos testemunhos que ouvimos, e foram muitos, parece-nos justo salientar pelas suas reconhecidas qualidades vocais, a Maria do Guilherme e a Clotilde Soares Pinto.
Notas;
[1] Luiz, José M. Ferreira | Guião da Exposição 60 Anos de Vida Associativa Organizada | manuscrito dactilografado | Arranhó, 1989.
[2] Luiz, José M. Ferreira | Estudo Sobre o Associativismo em Arranhó | original, 2023.
[16] Lisboa, Irene | Apontamentos | 1ª edição 1943 | 2ª edição 1998, Editorial Presença.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz