Na sequência da Exposição sobre o tema no salão do URDA nos anos 80, [1] podemos apresentar agora este Estudo mais atualizado da história das dinâmicas associativas em Arranhó. [2]
2 – Surge a Estudantina nos anos da Primeira República
A fase final da Monarquia em Portugal conheceu um crescimento do movimento filarmónico porque através dele cresceram os ideais de progresso e e se difundiam as ideias republicanas. Na primeira década do século XX este movimento estava no auge e atravessava uma época fervilhante.
Não são bem conhecidas as motivações e influências recebidas mas, o que é um facto, é nessa altura dos primeiros anos do regime republicano que um grupo de jovens arranhoenses, procurando romper a dureza da vida e o isolamento, resolvem criar uma “ESTUDANTINA” [6] para animar as longas noites de Inverno.
Sabemos que participaram naquela iniciativa os seguintes conterrâneos:
– Manuel Sapateiro
– Domingos Burra Velho (Domingos Luis Burra)
– António Loura Velho (António Francisco Assis)
– António Padeiro (António Soares Pinto)
– Brincatudo (Francisco Ferreira Morgado)
– Francisco Padeiro (Francisco Soares Pinto)
– Manuel d’Além (Manuel Lourenço d’Além)
– Fradico
– Manuel Tóino Loura
Na altura predominavam os instrumentos de corda. Perdeu-se na memória se tinham e como era a sua farda, nem onde ensaiavam.
Conta-se uma história popular de que numa ocasião, o Brincatudo arreliado quis mesmo “afinar” a sua viola na cabeça do mestre…
A música foi orientada por dois mestres, o António Loura Velho e o Gataria. O primeiro, grande benemérito da terra, e comerciante de ferro-velho, foi quem emprestou na altura o dinheiro – cerca de 600 a 700 escudos – indispensável para a compra dos instrumentos.
Muito pouco resta da memória desses tempos fundadores, sabe-se contudo que os músicos tiveram muito sucesso tendo mesmo uma das suas músicas, uma marcha muito bonita, segundo dizem, ficado para a geração seguinte – chamava-se “Violanda”. [7]
Com o aparecimento das febres – a Pneumónica [8] – o entusiasmo esfriou, acabando a Música.
Notas;
[1] Luiz, José M. Ferreira | Guião da Exposição 60 Anos de Vida Associativa Organizada | manuscrito dactilografado | Arranhó, 1989.
[2] Luiz, José M. Ferreira | Estudo Sobre o Associativismo em Arranhó | original, 2023.
[6] É muito curioso o nome então escolhido para este grupo, porque se formos aprofundar, Estudantina é o nome dado a um agrupamento de estudantes, ou de indivíduos que os imitam no traje, e que cantam ou tocam em comum. Não sabemos bem o motivo da escolha.
[7] Luiz, José M. Ferreira | artigo na Folha Popular de Arranhó FPA – Boletim de Informação e Cultura, II série, Nº 9 de Novembro/Dezembro de 1985
[8] A Pneumónica, ou Gripe Espanhola, foi uma crise pandémica que chegou a Portugal a meio de 1918 e, em cerca de dois anos, dizimou dezenas de milhares de pessoas.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz