Desde tempos muito remotos que que há memória de existir manufatura de calçado na aldeia de Arranhó. No século XX os sapateiros tiveram um peso muito significativo no emprego local. A foto que ilustra este postal é a da oficina do meu avô Manuel em 1950.
Em 1900 há memória de algumas oficinas. Numa aldeia onde quase todos cultivavam as suas courelas, a profissão de sapateiro já constituía alguma melhoria de vida. A manufatura principal era o calçado grosso, e o sapato e a bota ribatejana. Vendiam o seu artigo nas feiras e mercados da região (Bucelas, Malveira, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras, etc.), e tinham clientes de Vila Franca de Xira a Sintra.
Em 1935 regista-se a existência das seguintes oficinas de sapateiro:
Manuel Ferreira da Encarnação “Brincatudo”, meu avô materno.
Francisco Ferreira Morgado “Brincatudo”, meu tio avô materno.
Manuel de Além
Domingos Burra
Joaquim Soares, meu tio avô materno.
Joaquim Burra
António Carpinteiro
Fernando Carneiro
Habitualmente cada oficina, tinha o mestre, que era também o dono, e os oficiais, que trabalhavam à comissão.
Por estimativa feita em 1940, trabalhavam de sapateiro no lugar de Arranhó 40 homens.
Em 1950, contavam-se 60 profissionais e mantinham-se as seguintes oficinas de sapateiro:
Manuel Ferreira da Encarnação, no início da rua do Espragal
Francisco Ferreira Morgado, na rua 1º de Maio
Joaquim Soares, ao fundo da rua dos Sapateiros
Francisco Luis, no Outeiro,
Fernando Ganhão, no Outeiro
Francisco Sousa, no Casal
Joaquim Burra, na travessa da Escola
José da Glória, na rua da Casa da Junta
Manuel Carola, na rua da Casa da Junta
Em 1975, apenas existia a oficina do Fernando Ganhão, mas apenas para consertos, sinal da mudança no mercado do calçado e da mudança de hábitos da população.
Em 2015, só existia a oficina do Manuel Sousa, meu padrinho, que apesar de ter estado emigrado em França noutra profissão, sempre gostou da arte e mesmo lá longe arranjou tempo para atualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos. Quando regressou, resolveu manter-se ativo fazendo sobretudo consertos. Em 2017, fechou a última oficina de sapateiro em Arranhó.
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© DIREITOS RESERVADOS, Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz