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Postal de Arranhó Nº 005: “Apreciar as coisas simples”

O que são as épocas! Recordo hoje uma das muitas histórias que a minha querida mãe gostava de me contar sobre a vida em Arranhó e que muito me admirava pela simplicidade de vida das pessoas.

Contava-me a minha mãe, e mais tarde muitos outros arranhoenses partilharam comigo, a alegria com que em Arranhó o povo se juntava nos anos 40 para irem ao edifício da sede da SURA (Sociedade União Recreativa Arranhoense) para ouvir no único rádio que havia na aldeia, imaginam o quê? A transmissão da extração da Lotaria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa!!!

É verdade, a audição da transmissão radiofónica da Lotaria Nacional era um espetáculo!

Claro que temos de ter presente que naquele tempo não haviam as distrações que há hoje, mas também por essa razão aquele era um momento único. A harmoniosa voz dos locutores, todo aquele ritual sonoro, o som das bolas a rolar, a apresentação cantada dos números das cautelas da sorte premiadas e os respetivos valores dos prémios:

  • «Zero! Dois! Oito! Três! Oito! Quatro!»
  • «Viiinte e ooiiito miiil, treezeeentoos e ooiiteeenta e quatro!…»
  • «Dooiis miil coontos!…»

Toda aquela produção sonora era suficiente para entusiasmar as pessoas sentadas na sala da Sociedade, a escutarem através do velho e único rádio da aldeia. Era naquela época um espetáculo de glamour, com grande popularidade, num tempo em que o divertimento era escasso.

Se pensarmos na realidade dos dias de hoje, continua a surpreender-nos a simplicidade do entretenimento dos arranhoenses, e a sua capacidade de apreciar as coisas simples.

Notas:
As primeiras emissões regulares de rádio surgiram em Lisboa em1925, e em 1928 nasceu na Parede o Rádio Clube da Costa do Sol, mais tarde convertido no Rádio Clube Português. Em Agosto de 1935 foi inaugurada a Emissora Nacional. E em 1937 foi a vez da Rádio Renascença.

© DIREITOS RESERVADOS, Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz