É muito curioso recordar as importantes mudanças de hábitos que Arranhó foi conhecendo ao longo dos anos, e um caso exemplar será o das comunicações telefónicas.
Nos idos anos 50, na aldeia de Arranhó só havia um telefone, o da loja do Augusto Francisco Assis.
Quem tivesse necessidade de telefonar, era lá que ia pedir o favor. Eram tempos com ritmos de vida muito diferentes dos atuais, onde muitas vezes os recados eram passados verbalmente através de pessoa amiga, e as notícias seguiam por carta escrita.
Eramos um Portugal bem diferente do que somos hoje. E a freguesia de Arranhó também. O número de telefones domésticos foi crescendo muito moderadamente.
É talvez interessante recordar mais alguns pormenores. Nos anos 70, para telefonar para alguém na aldeia de Arranhó, era preciso marcar primeiro o indicador 259, depois aguardar que uma telefonista da central telefónica localizada em Bucelas [1] atendesse, para então lhe podermos pedir que nos ligasse ao número de destino final.
Nessa época, discávamos no nosso telefone o número 259, e ficávamos a aguardar a voz da telefonista do PBX dizer: «9694…» e só então nós lhe respondíamos verbalmente com os 3 últimos algarismos do destino pretendido, ouvindo de seguida os ruídos característicos do manuseio das cavilhas na central analógica, e aguardando a voz nossa conhecida do familiar com quem pretendíamos falar.
Era um protocolo estabelecido que hoje é considerado obsoleto, mas que na época de então significava um grande progresso nas telecomunicações [2], pois permitia o contacto à distância entre as pessoas.
Como muitos arranhoenses rumaram para Lisboa e arredores em busca de melhores condições de vida e trabalho, o telefone era um grande meio de comunicação entre familiares, tanto mais que não era tão fácil como é hoje, a mobilidade das pessoas, com muito menos viaturas particulares, o estado das estradas, e, a dificuldade das deslocações.
O ato de levantar o auscultador e discar com o nosso dedo cada um dos algarismos 259 era um momento singular…
Notas:
[1] Em 1968, depois de acabar a concessão da APT – Anglo-Portuguese Telephone Company, foi criada a empresa pública Telefones de Lisboa e Porto – TLP, que ficou responsável pela prestação de serviços de telecomunicações nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
[2] para saber maisver: ANCIÃES, Alfredo Ramos | “Da história das telecomunicações no Estado Novo (1926-1974)”, e, “Da história das telecomunicações na Democracia (1974-2010)” | Catálogo da Exposição “Comunicar na República – 100 anos de Inovação e Tecnologia” | Fundação Portuguesa das Comunicações, 2010.
© DIREITOS RESERVADOS, Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz