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Postal de Arranhó Nº 001: “Ó Coisas da terra!”

«Ó coisas da terra!

Amá-las, sim, amá-las.

Pela sua augusta tranquilidade, pela sua beleza,

as particularidades da sua beleza,

pela sua indiferença profunda,

inconsciente, quase nobre…

Uma calma!

Uma conformação tão equilibrada!

Nem gestos desairosos, nem irritação nem fadiga,

nem violências.

Corre a água funda…

Corre a tua água funda, formoso rio, entre penhas

ruças, amontoadas, imóveis.

Subtilíssima, tenebrosa água.

Misteriosa, espelhante, afogada, inviolada.

Olho-a de perto, de baixo, olho-a de cima…

Sempre formosa e tranquila.

Geradora de todas as imagens!

Opressiva, animadora…»

Gostou de ler? Releia outra vez e saboreie o texto.

A leitura faz-nos bem a todos, elucida-nos, abre-nos novos horizontes, não nos deixa definhar e acomodar.

Este passeio da arranhoense Irene Lisboa [1] sugere-nos um outro olhar sobre os horizontes que a nossa indiferença quotidiana muitas vezes nos oculta.

É curioso como esta passagem do seu livro de poemas “Outono Havias de Vir”, de 1937, como que nos provoca a deixar os phones e os tablets, ou os jogos e as séries, fechados no quarto, e sairmos para a rua para usufruir a beleza do que temos à nossa volta, único, insubstituível.

Esperamos com este primeiro postal despertar a atenção do leitor para uma caminhada à descoberta de Arranhó e as suas gentes, a sua história, cultura e tradições, que no seu conjunto tanto valorizam o concelho de Arruda dos Vinhos.

Notas:

[1] A pedagoga e escritora Irene Lisboa (1892-1958) nasceu na Quinta da Murzinheira, A-dos-Arcos, freguesia de Arranhó, concelho de Arruda dos Vinhos.

© DIREITOS RESERVADOS, Arranhó Memória e Tradição, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz