Estamos convencidos que o lugarejo de Arranhol já existia no tempo em que os romanos exploravam a rica várzea de Bucelas.
Certamente que esse lugarejo rude e modesto não deve ter sentido impacto significativo com a dominação do território a norte da romana Olissipo (Lisboa) por suevos (sec. V), visigodos (séc. VI) e depois muçulmanos (séc. VIII). Deve ter mantido, durante décadas, uma vida simples, isolada e dedicada a uma vida rural de subsistência.
Desde os primórdios a população precisou tornar-se autossuficiente e resiliente face às incertezas duma vida rude e solitária. Por altura da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, com o auxílio duma armada cruzada em 1147, os habitantes de Arranhol já haviam desenvolvido terras de vinha, olivais, herdades, casais e almoinhas. Souberam beneficiar da sua proximidade da rede hidrográfica do rio Trancão, então navegável até Bucelas.
Parece que o lugarejo se terá consolidado junto dum antigo itinerário romano, e próximo dum antigo eremitério ou cenóbio onde mais tarde virá a ser erguida a sua igreja paroquial. Junto do leito da ribeira com terrenos muito férteis para hortas começou um pequeno núcleo habitacional.
É provável que aqui se tenham acolhido alguns refugiados muçulmanos e moçárabes fugindo das lutas entre cristãos e mouros, da conquista de Lisboa em 1147. O mesmo deve ter acontecido mais tarde com alguns judeus fugidos das perseguições. No essencial a sua população era constituída por servos rurais (foreiros ou herdadores) um ou outro abegão, e alguns artífices e almocreves.
Estudos recentes confirmam que Arranhol beneficiou da estruturação do território do Termo de Lisboa no pós Reconquista graças ao papel das casas monásticas. Os cónegos regulares de Santo Agostinho a partir de 1147, e as Ordens Mendicantes em 1271, os Franciscanos (Alenquer) e os Dominicanos (Montejunto, depois Santarém).
Apesar da sua localização periférica relativamente a Lisboa, foram encontrados registos de várias compras de herdades em Arranhol, quer pelo Mosteiro de São Félix de Chelas em 1235 até 1289, quer pelo Mosteiro de São Vicente de Fora em 1227 e 1238.
Outros estudos já tinham conferido que Arranhol pertenceria ao bairro da Mouraria, e, que pelo menos do século XII a 1325 o lugarejo está presente na topografia de Lisboa.
Não são ainda conhecidos os ecos sentidos em Arranhol com os grandes eventos do história nacional naquela época, seja a Crise 1383-1385, a Peste Negra de 1348. São questões ainda por apurar mas é natural que tivesse havido envolvimento dalguns dos seus habitantes
Tanto quanto podemos imaginar, durante as dinastias Afonsina e e o início da Joanina, a vida nos pequenos lugarejos de Arranhol de Cima e Arranhol de Baixo parece ter decorrido pitoresca e tranquila, ao ritmo das estações do ano e das tarefas agrícolas.
Semear, colher, semear, sucediam-se com as interrupções devidas aos prolongados dias de chuva que obrigavam a ficar nos seus tugúrios de pedra tosca e adobe, chão de terra batida, e cobertura de telha canudo.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz