Os choupos [1] foram durante muito tempo cultivados como árvore de alinhamento ao longo de caminhos. E a estrada de Bucelas para o Sobral de Monte Agraço era toda ela bordejada por choupos, para proporcionar uma sombra refrescante aos viajantes que por ela circulavam de carroça ou de burrico.
Uma dessas árvores, estava implantada mesmo na curva onde na aldeia de Arranhó chegava à estrada nacional o caminho que ligava ao lugar de Ajuda.
Esta árvore centenária tornou-se durante décadas no centro, no local de encontro dos homens de Arranhó ao domingo, que se sentavam sobre as suas raízes e ali, sob a sua sombra refrescante, conviviam e conversavam.
O Choupo tornou-se um ícone em Arranhó porque ali se reuniram gerações e gerações de arranhoenses, ali se ouviram desgarradas, ditos e anedotas, intrigas, ali se ouviam bravatas e muitas histórias, umas verdadeiras outras inventadas, ali se falava da vida e da sua dureza, das esperanças e desilusões. Debaixo do choupo os mais novos escutavam os mais velhos, ali se transmitiam experiência e modos de ser.
Frequentar o Choupo era sinal para os mais jovens de já ser crescido.
O Choupo, tal como o Moinho do Custódio, era muito respeitado por todos os arranhoenses, porque fazia parte da sua identidade, sinalizava “a sua terra”.
Esta rara e histórica fotografia permite ilustrar bem o que descrevemos, não só quanto à monumentalidade da árvore como ao hábito de reunir sob a sua sombra.
Será uma foto dos anos 70, o “Rio das Mulheres”, à direita, ainda existia, mas já tinham sido aterrados o pontão e as hortas onde mais tarde nascerá o Largo Irene Lisboa. A vida do choupo estava a chegar ao seu ocaso.
Conhecem alguns dos fotografados? Ajudem a identificar os seus nomes.
Da esquerda para a direita podemos recordar:
o “Zé Espada” (José Luis Lourenço); o “Zé Pouca Sorte” ou Zé Bugalhiço (José Carpinteiro Lourenço) ; o “Zé do Vicente” (José Assis Lourenço); o César (César Luis Lourenço); o Quirino (Quirino Lourenço); sentado no tronco o “Zé Manjor” (José Soares Mateus)
à frente: o Amaro Coelho
Neste grupo se confirma que Arranhó era uma família de famílias.
Esta foto maravilhosa foi-nos facultada pela nossa prima Maria José Soares Mateus a quem muito agradecemos a generosidade da partilha.
Notas:
[1] Choupo é uma árvore da espécie “Populus alba”, da família das “Salicaceae”, de que fazem parte por exemplo o choupo-negro, o choupo-braco, e os álamos. São árvores de folha caduca, que podem alcançar os 30 metros de altura e os dois metros de diâmetro no seu tronco.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz