No início do século XX havia em Arranhó um costume popular chamado de “Deitar Pulhas”, muito característico do período do Entrudo. Apresentamos uma curiosa descrição publicada em 1943. [1]
«É ainda frequente pelo entrudo em muitas localidades da Estremadura, “deitar pulhas”. Maneira de gracejar, nem sempre comedida e decorosa. Pela calada da noite, indivíduos munidos de funis para ampliar o som, escolhem os pontos mais elevados da povoação e, com aqueles improvisados altifalantes, estabelecem perguntas e respostas escarninhas, vozeadas em rimas de métrica rasteira.
Divertem-se assim durante toda a noite, mordiscando com sátiras agaitadas a alvoraçada gentinha do lugar.
Na freguesia de Arranhó foram dedicadas pelo Carnaval à diligente professora D. Aurora de Carvalho Santos Pereira, algumas pulhas burlescas.
Depois da frase obrigatória –“tambem deito mais esta…” seguida dum destemperado gargalhar “Ah!Ah!Ah!” foram escutados os seguintes dichotes:
«Esta noite morreu um burro.
– P’ra quem é a seda do rabo?
– É p’rá senhora professora
Fazer um lindo bordado»
«Já lá vai o santo Entrudo
Mais a sua carne gorda;
Já lá vem a Quaresma
Do bacalhau e da açorda.»
Estes versos, ou outros semelhantes, são proferidos por um e apoiados em grita acesa por todos os comparsas da barulhenta folia que respondem em coro:
“É verdade!… é verdade!”»
Notas:
[1] Artigo de Dr. Joaquim Fontes – Mem-Martins – Notas históricas e arqueológicas in “Estremadura” II série vol.III 1943 pág. 304
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz