Quando acedemos a algumas fontes escritas mais antigas, podemos encontrar informações que se complementam umas umas às outras, uma vez que os autores são, mais concisos ou mais detalhados, conforme a informação a que conseguem aceder e também a sua sensibilidade para determinados dados e temáticas.
É o caso por exemplo desta obra com o título “Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas”, da autoria do Padre Luis Cardoso, publicada em Lisboa em 1747, e que no seu tomo I páginas 588-589, nos oferece uma gorda descrição sobre a freguesia de Arranhó:
«ARRANHOL, Aranhô, ou Aranhol (como lhe chama o Padre D. Luiz de Lima, na sua Geografia). Lugar na província da Estremadura, Patriarcado, e termo da Cidade de Lisboa, da qual dista cinco léguas: tem trinta e seis fogos. Está fundado em sítio montuoso, e tem Igreja Paroquial fora do povoado a pouca distância; é seu orago São Lourenço; consta de cinco altares, o maior em que está o Sacrário com o Santíssimo, e a imagem do Santo Patrono, o do Espírito Santo, o de Nossa Senhora das Candeias, o de Nossa Senhora do Rosário, e o de Santa Catarina Virgem e Mártir. O Pároco é Cura anual, apresentado pelo Prior de São Cristovão de Lisboa; tem por côngrua um moio de trigo, trinta alqueires de cevada, uma pipa de vinho, e quatro mil e quinhentos reis em dinheiro.
Tem esta freguesia uma Ermida de Nossa Senhora de Ajuda fora do povoado, para a parte Nascente, e há nela três altares, no principal se venera a imagem da Senhor Padroeira, no segundo Nossa Senhora do Amparo, e no terceiro Nossa Senhora dos Prazeres, com seu Ermitão, que apresenta o mesmo Prior; festeja-se a oito de Setembro e acode a esta Casa grande concurso, e pela roda do ano, principalmente nos sábados també é buscada a Senhora de alguns devotos.
Os frutos que em maior abundância produz esta freguesia, são: trigo e cevada, milho grosso pouco, mediano vinho, e azeite em pouca quantidade. É este lugar julgado com dois Juízes da vintena feitos pelo Senado de Lisboa, e pertence à distribuição do Corregedor do Bairro da Mouraria.
Há no cimo desta freguesia, para a parte do Norte, uma terra chamada Monte Agrasso: é de forma redonda e de pouca altura; cria perdizes, bastantes coelhos, e algumas lebres. Ao pé desta terra, à parte do Poente, principia um pequeno rio sem nome, que lança a sua corrente de Norte para Sul, e em distância de uma légua vai recolhendo em si alguns regatos, que nele se metem em vários sítios; seca de Verão quase todo, e de Inverno dá àgua a quatro moinhos; é esta livre de toda a pessoa que a quer. Junta-se a este outro, que nasce no vale dos Camondos, também corre de Norte a Sul, e ambos se vão unir onde chamam Junta dos Rios, que é no fim desta freguesia, e no princípio da de Bucelas, e em distãncia de um quarto de légua se metem no rio de Bucelas, e este entra no mar de Sacavém.
Pertencem a esta freguesia os Lugares seguintes: Arranhol debaixo, Arranhol decima, Carvalhal, Tesoureira, Villa Vedra, Algobella debaixo, Algobellas decima, A dos Camondos, Morzinheira, A dos Arcos, Castello, Loural, Granja, Louriceira debaixo, Louriceira decima, Casal das Mancebas, Casal do Nogueiro, e Outeiro das Doudas.»
Notas:
[1] légua, é uma antiga medida itinerária portuguesa equivalente a 5 quilómetros.
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