Memórias da Festa Anual
Uma excelente partilha do cartaz das Festas de 1968 pelo Jorge Raimundo sugeriu-nos algumas notas de cultura geral uma vez que naquele ano se retomaram as festas que tinham sido interrompidas com o período anti-clerical e anti-religioso do final do séc. XIX e início do séc.XX.
O cartaz original foi preservado pelo José Manuel Teixeira a quem também agradecemos ter facultado a sua visualização.
Recordemos alguns factos.
Sabemos que a formação da paróquia de Arranhó remonta aos inícios da nacionalidade e que o seu santo protector escolhido foi o mártir São Lourenço.
A tradição de guardar a memória daqueles que morriam por causa da sua fé, os mártires, vem dos primeiros tempos do cristianismo, em que cada igreja tinha o seu Martirológio, onde se anotava o dia da passagem dos mártires à vida eterna, o chamado «dies natalis». O dia da morte passava a ser o dia da celebração anual da sua memória.
Temos notícia de que, até ao início do séc. XX, na aldeia de Arranhó se celebravam duas festas, certamente ecos duma vida feita ao ritmo das estações do ano. Uma na Primavera no mês de Maio, em honra de São Sebastião, e outra no Verão, no mês de Agosto, em honra de São Lourenço.
Por razões pouco esclarecidas, provavelmente o ambiente anticlerical e anticatólico vivido no País, a primeira teve a sua derradeira edição em 1926, e a segunda foi interrompida em 1916, sofrendo um longo interregno sendo retomada em 1968.
Podemos associar a retoma dos festejos em 1968 a uma dinâmica política e social de ‘progressismo’ que então vivia o País, e que ficou conhecida como ‘primavera marcelista’.
Assim, não foi tanto a devoção que mobilizou na época os arranhoenses, mas o seu amor à sua terra, e a vontade de a fazer progredir.
Naturalmente que tudo se concretizou debaixo de uma harmonia e consenso alargados, convivendo saudavelmente as sensibilidades mais religiosas e as mais profanas.
Era então pároco, o P. Eduardo Freitas.
À época, já muitos arranhoenses trabalhavam laboriosamente na capital, e pelo País fora, recebendo influências ‘progressistas’, e isso permitiu criar uma Comissão de Festas forte e unida, envolvendo representantes notáveis de todos os lugares da freguesia.
É muito interessante constatar que até hoje se tem mantido este singular traço de união entre católicos e profanos: o amor à sua terra de origem.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz