A vida na província era particularmente difícil na primeira metade do século XX, e a aldeia de Arranhó não era excepção, os recursos eram escassos e como se dizia na época «vivia-se remediado» ou mesmo na penúria.
As mulheres arranhoenses, como sucedia na época, tinham como missão principal cuidar da sua família (o marido, os filhos, os doentes e os mais idosos), chamava-se a essa actividade de domésticas. Era uma missão nobre, e bem difícil, com múltiplas tarefas e obrigações sociais.
Apesar do preconceito, importa aqui sublinhar neste postal é que essas mulheres arranhoenses não se remeteram à passividade e é de recordar a resiliência de muitas delas, o seu sentido de justiça, a sua vontade de conseguir trabalhar por uma vida melhor, e de também contribuir para o sustento da casa, então só ao homem cabia esse papel.
Esta foto preciosa é um exemplo vivo da maneira de ser arranhoense: por um lado, o empreendedorismo, neste caso através do Zé d’Além que a dada altura criou uma parceria com a famosa marca americana Singer, para vender máquinas de costura, dar formação profissional, e, prestar assistência técnica às clientes. A Singer oferecia um inovador sistema de pagamento faseado às suas clientes, e, a força de vontade das inúmeras jovens que acorriam aos cursos de formação levava-as a investir numa máquina de costura para poderem trabalhar a partir de casa. Com aquela ferramenta uma mulher podia confecionar em casa a roupa para toda a família, e ainda trabalhar para fora. E eram muitas que o faziam.
Podemos acrescentar que, no início dos anos 80, uma máquina de costura ainda fazia parte da lista de enxoval duma noiva arranhoense.
Como se pode ver, já na época se fazia muito do que hoje é apresentado como inovador.
É particularmente impressivo nesta foto o número de jovens formandas que aqui se fizeram retratar e a sua vontade de conquistar uma vida melhor e aumentar a sua autoestima.
Esta bonita foto foi-nos facultada pela Maria Irene Frutuoso Além, a quem muito agradecemos a gentileza e cooperação na recuperação de mais uma preciosa memória comunitária.
#VidaLocal
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz