Noutros tempos, o Carnaval chamava-se Entrudo {1], não era tão “abrasileirado” como nos dias de hoje, pelos anos 50 era ocasião de algumas partidas e brincadeiras, da vinda de Cegadas [2] visitar a aldeia, e da organização de Bailes de convívio na Sociedade.[3]
As partidas de então eram muito simples, como atirar farinha e àgua, ou mergulhar alguém no tanque da fonte da Arca. Quanto às cegadas, Arranhó era visitada por grupos foliões da região, uns de mais perto, outros de mais longe: Almargem (Santo Quintino), Santa Eulália (Loures), etc.
Os bailes de Carnaval eram um momento de se juntar a comunidade a conviver, e de suscitar oprtunidade de namoricos.
Mas para escrever sobre como se vivia em tempos mais antigos o Entrudo em Arranhó pareceu-nos interessante recorrer ao trabalho laborioso do Carlos Alberto Alves Lourenço que, nos anos 70, conversando e escutando com os seus familiares mais idosos foi gravando as suas recordações que depois compilou na sua notável ‘Monografia da Freguesia de Arranhó’. [4]
No capítulo que designou de “A Coreografia, O Cancioneiro”, o Carlos Alberto organizou uma rubrica chamada Cantigas de Entrudo que começa assim:
CANTIGAS DO ENTRUDO
«Pelo Entrudo, e mesmo fora dele, quando havia oportunidade para isso, apareciam algumas quadras mais malandrecas:
“Todo o pássaro come o trigo
Só a coruja bebe azeite
Só o melro da menina
Come carne e bebe leite.”
(por Francisco Luís, nascido em 1913)
“Menina prenda seu melro
Que ele vai ao meu bacelo
Todos os melros são de penas
Só o seu é de cabelo.”
(por Francisco Luís, nascido em 1913)
“Menina prenda seu melro
Que ele vai ao meu quintal
Espenica na batateira
Estremece o batatal.”
(por José Luís Lourenço nascido em 1920)
Cantada em baile, mas só nesta época.
“Esta noite choveu água
Que encheram os açudes
Cala-te cabra, não barregues
Cala-te burro, não azurres.”
(por Gertrudes da Conceição (“Estrudes Quita”) nascida em 1905)
Pelas idades dos escutados, podemos assim ficar com uma ideia de como seria o espírito de “malícia”, e de “malandrice” popular, dos arranhoenses na época do Entrudo nos anos 30-40.
Notas:
[1] Entrudo – Período que compreende os três dias que precedem a Quaresma. Conjunto de brincadeiras e festejos que ocorrem nesses dias.
[2] Cegadas – Grupo de figuras mascaradas que, no Carnaval, anda cantando e pedindo pelas ruas à maneira de cegos.
[3] Sociedade União Recreativa Arranhoense S.U.R.A.
[4] LOURENÇO, Carlos Alberto Alves | Monografia da Freguesia de Arranhó | manuscrito dactilografado | 1976.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz