Dos Primórdios
Faz ideia o que seria a nossa região de Arranhó há 250 ou 160 milhões de anos atrás? Como se formaram estes outeiros e vales que fazem parte da nossa paisagem?
Talvez considere a pergunta bizarra, e nunca lhe tenha ocorrido tal questão, mas muitos cientistas (nacionais e estrangeiros) têm trabalhado nesse assunto, e têm publicado imensos estudos científicos sobre esta região de Portugal, onde se localiza Arranhó. O que estará talvez ainda a faltar é um arquivo local organizado que disponibilize todos esses artigos e informações e a respectiva divulgação.
Aproveitamos este postal para divulgar algumas informações conhecidas, e desse modo motivar a Escola e os alunos para a aprendizagem e o estudo. Afinal, quando percorreis as nossas estradas nem sempre apreciais o panorama que a vossa vista alcança.
Ora bem, Arranhó está localizada numa região designada por Bacia Lusitaniana, uma bacia sedimentar que se desenvolveu na Margem Ocidental Ibérica durante parte da chamada Era do Mesozóico (aproximadamente há 250 milhões de anos), no contexto de fragmentação do grande continente chamado Pangeia (do grego Pan = todo, Gea = Terra) e da fragmentação da abertura do Atlântico Norte.
É sabido que intensos movimentos tectónicos foram modelando a superfície terrestre, os seus montes e vales, as zonas secas e as zonas húmidas, fazendo-as desaparecer ou criando-as.
Certamente são muitos aqueles que já tiveram oportunidade de encontrar nos terrenos lavrados de Arranhó pequenos fósseis que os especialistas fazem remontar ao chamado período Jurássico, isto é há 160 milhões de anos!
Recordamos entre esses achados muito comuns, que foram encontrados moluscos bivalves como a Protocardia, a Mactromya, ou a Myophorella lusitanica; corais como a Axomalia; e, invertebrados como as Trilobitas. [1] Estudos geológicos especializados têm permitido estudar com pormenor Portugal e testemunhar a antiguidade e evolução do território de Arranhó no contexto da nossa Estremadura. [2]
É talvez difícil olhar hoje por exemplo para as encostas do Monte Grande [3] e imaginar que já foi zona inundada, mas muitos fósseis ali foram encontrados.
Notas:
[1] Simon Schneider,| “A multidisciplinary study of Late Jurassic bivalves from a semi-enclosed basin – Examples of adaptation and speciation and their stratigraphic and taphonomic background (Lusitanian Basin, central Portugal) | Ludwig-Maximilians-Universität München | September 2009
[2] Simon Schneider, Franz T. Fürsich,Tanja Schulz-Mirbach,Winfried Werner | Ecophenotypic Plasticity Versus Evolutionary Trends—Morphological Variability in Upper Jurassic Bivalve Shells from Portugal | Acta Palaeontologica Polonica, 55(4) : 701-732 | Institute of Paleobiology, Polish Academy of Sciences
[3] Monte Grande é o nome porque era conhecido o outeiro onde se encontra o Moinho do Custódio.
#HistóriaLocal
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz