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Postal de Arranhó N° 184: “Perús no Natal”

Esta foto antiga tirada no Rossio permite-nos recordar um pouco da vida na aldeia de Arranhó.

Até aos anos 70, era muito comum nas casas arranhoenses haver um recanto do quintal ou no páteo, um espaço para criação de animais. Nuns casos para consumo próprio, noutros, para ajudar ao sustento da casa.

Havia pois conforme os casos, quem criasse em casa galinhas, coelhos, patos, perús, etc.

Era um tempo em que a vida era naturalmente mais ecológica e ambientalmente sustentável, sem o palavreado dos dias de hoje. As famílias cuidavam das suas hortas e fazendas, e criavam os animais alimentando-os com as sobras da cozinha, tudo se reaproveitava.

Os hábitos alimentares da população eram mais sóbrios, consumia-se mais pão, hortícolas, cereais e tubérculos, leguminosas, fruta. Dum modo geral consumia-se o que se produzia. A carne e o peixe eram muito menos presentes na dieta quotidiana dos arranhoenses.

A economia doméstica impunha-se, pois era preciso poupar. Era muito comum por exemplo consumir uma parte dos ovos, mas guardar o restante para vender. As galinhas só eram consumidas num momento de doença familiar, e no geral criadas para venda. Coelhos, patos e perús eram também destinados a venda.

Era muito comum criar em particular uma galinha, um coelho, ou um pato, para presentear alguém a quem se deviam favores ou graças, como por exemplo a professora primária, o médico de família, o pároco. Conforme os casos a oferta podia ser o animal vivo, ou já morto e devidamente arranjado num cesto ou numa travessa. Eram ofertas generosas de gratidão, que também humanizavam a viva comunitária.

Uma parte significativa da produção caseira era, como já referimos, para vender e assim ajudar ao sustento da família. Haviam negociantes que se dedicavam a comprar os animais vivos aqui e ali, para depois os irem revender na capital onde eram muito apreciados e havia mais poder de compra.

A cena retratada nesta foto no Rossio, permite-nos vislumbrar o ambiente dos saloios na capital nas vésperas do Natal.

Os negociantes arranhoenses também ali se deslocavam, juntando-se a outros da região saloia que também ali se dirigiam para vender os seus perús.

Muitos negociantes já tinham clientes habituais nalgumas casas lisboetas, e de resto faziam o habitual, concentrando-se em locais de venda como o Campo Grande, o Largo de São Domingos, o Campo das Cebolas, o Chafariz de Dentro e muitos outros, além de percorrerem toda a cidade. Os vendedores traziam consigo sacos de milho aos ombros, como o da foto, para alimentar as aves durante a jornada.

Era preciso ganhar o sustento e a vida era dura nesse tempo.

#UsosCostumes

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz