Desde miúdo que me causavam curiosidade as histórias sobre a vida dos negociantes de Arranhó. Eram exemplos imediatos dessas vidas, o meu avô Manuel Luis de Arranhó de Baixo, a caminho de Lisboa conduzindo a carroça com produtos hortícolas, ou, o meu avô Manuel Brincatudo de Arranhó, que frequentemente se deslocava no seu macho com calçado a caminho de São João das Lampas em Sintra. Sempre houve muitos negociantes em Arranhó, gente séria e honrada.
Gostava de imaginar aqueles homens a sair de madrugada, já com tudo bem aparelhado e meterem-se ao caminho pela estrada tortuosa de Bucelas a caminho dos seus destinos.
Também cedo me despertavam a curiosidade a quantidade de chafarizes e fontanários espalhados ao longo do percurso entre Arranhó e a capital, destinados a facultar água fresca aos viajantes, aos animais, e também para molhar as rodas das carroças [1].
Ao saírem de suas casas e passada a Quinta do Paço, seguia-se a “Fonte Cepa” e, se olhassem para trás deixavam de ver a sua terra, Arranhó. Depois das ”Juntas do Rio”, e, antes de Vila Nova, passavam pelo “Chafariz Cara Linda” (1881) com água de nascente da Serra de Alrota. O próximo fontanário era na Bemposta, e depois iam-se sucedendo regularmente outros mais ao longo da estrada como procura mostrar o mapa.
Ainda hoje se podem ver muitos desses antigos chafarizes e fontanários; alguns deles monumentais (Santo Antão do Tojal, Loures, Póvoa de Santo Adrião), outros, mais simples e práticos, dotados de bica e tanque. Perderam entretanto a importância que tinham, e nalguns casos os itinerários atuais já não os incluem.
Era então uma longa viagem, e estes fontanários foram testemunhas da solidão e da dureza da vida de muitos arranhoenses, na labuta para sustentar as suas famílias.
Notas:
[1] ao molhar as rodas das carroças asseguravam-se que a madeira se mantinha inchada assegurando que o aro metálico que as revestia se mantinha no lugar.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz