QUASE MEMÓRIAS – parte 5
Continuamos a respigar na memória os factos que estão na origem de Irene Lisboa ter “entrado” na vida arranhoense.
Creio ser legítimo sentir orgulho em estar ligado à preservação da memória cultural da nossa ilustre conterrânea Irene Lisboa na sua terra natal, Arranhó, e no seu concelho.
O ano de 1986 foi sem dúvida o cume deste meu idealismo, com a realização pela Câmara Municipal dum vasto e notável Programa de iniciativas de Homenagem a Irene Lisboa.
Mas voltemos um pouco atrás para referir uma pequena história que muitos não saberão; o meu saudoso tio Francisco Soares da Encarnação, que sempre soube na sua sabedoria descortinar e aproveitar as minhas capacidades, percebeu a importância e a justiça de se dar o merecido relevo a uma conceituada filha da terra de que eu vinha insistindo em divulgar.
E foi assim que numa das nossas conversas de Verão em Lagos, no ano de 1985, amadureceu a ideia de que seria desejável o Município de Arruda dos Vinhos realizar uma homenagem institucional a Irene Lisboa. E, para pensar em números redondos, recordei-lhe que seria interessante aproveitar o ano de 1986, porque se celebrava 60º aniversário da publicação da primeira obra literária da autora: ‘Treze Contarelos Que Irene Escreveu e Ilda Ilustrou’.
E de facto assim veio a acontecer. A Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, apesar de ainda não ter muita experiência na organização deste tipo de eventos, avançou corajosamente com o desafio, elevando definitivamente Irene Lisboa ao lugar de destaque concelhio que merecia.
Eu fiquei particularmente grato com o desenrolar dos acontecimentos e aos seus protagonistas, o presidente Mário Henrique Ferreira Carvalho, e faziam parte da sua equipa, o meu tio Francisco Soares Encarnação e o meu amigo Manuel Florindo da Eira.
Ainda hoje, merece o meu respeito o entusiasmo com que a Câmara abraçou a ideia, assim como toda a equipa dos serviços que conseguiu mobilizar para o efeito, e que tão motivada trabalhou. Recordo por exemplo o professor Abel Simões Ribeiro.
Foi na altura um esforço notável, até a contrariar os habituais pessimismos, rivalidades, e despeitos que tantas vezes acontecem.
O resultado final foi um Programa de Homenagem bem conseguido, que muito prestigiou a Câmara e o concelho, com inúmeras iniciativas a mobilizar a população quer na sede do concelho, quer em Arranhó: a Semana Irene Lisboa, a Sessão Solene na CMAV, o descerramento do monumento em Arranhó, os Colóquios, as Exposições, os Jogos Florais Irene Lisboa.
Estou muito grato que o senhor presidente da Câmara de então tenha tido a simpatia de me convidar, e desse modo reconhecer o nosso trabalho, na Sessão de Lançamento do Programa para participar no evento.
E foi assim que no dia 22 de Junho tive a honra de participar na mesa que presidiu à Sessão Solene, onde se sentaram o Presidente da Assembleia Municipal, o Presidente da Câmara Municipal, a Professora Doutora Paula Mourão (oradora oficial), o deputado Rui Silva, o Diretor do Externato Irene Lisboa, a arquiteta Inês Gouveia (afilhada de Irene Lisboa). Na ocasião fui tratado generosamente pela organização de “biógrafo” da autora… Foi um momento social de grande sucesso.
Recordo também com muito orgulho o salão de festas do URDA repleto, no Colóquio realizado no dia 28 de Junho em Arranhó. Deveria ter estado presente a Dra Helena Cidade Moura, para falar sobre ‘Irene Lisboa Mulher e Cidadã’, mas por motivo de doença súbita não lhe foi possível estar presente.
Calhou-me o papel de ‘orador principal’, papel que procurei preencher o melhor que sabia e creio ter então dignificado Arranhó. A presença da Dra Paula Mourão, das minhas primas Dra Manuela Lourenço e Dra Joaquina Raimundo, e o salão cheio de gente, ajudaram-me a superar o desconforto de falar em público. A ‘Crónica da Homenagem’ mais tarde publicada pelo Município faz-me uma referência simpática nesse dia referindo-se a mim “a quem o nosso concelho deve o ressuscitar, constante na sua investigação, da memória de Irene”…
Desconheço se existem fotos destes eventos, o que me seria gratificante rever.
Ao olhar hoje o Memorial a Irene Lisboa, precisamente no Largo central da vila de Arranhó, que sabiamente foi chamado de Largo Irene Lisboa, ressalta-nos a alegria dum dever cumprido, e o desejo de que através dele as novas gerações possam vir sentir um estímulo à leitura de livros, um desafio a conhecerem algo mais sobre Irene Lisboa, uma motivação extra a continuarem a tomar novas iniciativas culturais de valorização da nossa história comunitária.
Apesar da falta de interesse que hoje parece predominar, quero acreditar que a singularidade deste meu singelo papel poderá porventura mostrar às novas gerações que todos podem afinal dar um contributo positivo para o bem comum, cada um na sua época e a seu modo.
A partir de 1986, o nome de Irene Lisboa começou a ganhar o respeito e prestígio a nível concelhio, as raízes começavam a crescer…
E assim se foi fazendo história na divulgação desta filha da terra…»
#HistóriaLocal
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz