Cancioneiro arranhoense
Durante séculos a oralidade assegurou a transmissão da tradição, a pós-modernidade tem tendência a ignorar a tradição. Em Arranhó tem-se vindo a perder a memória, fruto duma indiferença para com a tradição, não se procura conhecer e fica-se convencido que só existe o agora.
Mas felizmente tem havido alguns mais esclarecidos que tentam, a seu modo, preservar, não deixar que se perca a memória. Foi o caso dum notável conterrâneo, o Carlos Alberto Alves Lourenço, que, com paciência e método, escutou e transcreveu imensas recordações que procurou registar entre os seus familiares mais idosos.
Vamos transcrever um pouco do seu trabalho de recolha [1]:
«CANTIGAS DIVERSAS
A maior parte das que se seguem neste agrupamento, eram cantadas nos trabalhos agrícolas: mondas, [2] escamisas, [3] vindimas, etc.
Olhos azuis, olhos pretos,
Trago eu num cabazinho
Olhos azuis a cruzado,
Olhos pretos a quartinho.
G da C [4]
Um quartinho eram dois tostões e dois vinténs.
Troquei meus olhos pretos
Pelos teus acastanhados,
Agora todos me chamam
O amor de olhos trocados.
G da C
Uma quadra à Senhora da Ajuda
Nossa Senhora da Ajuda
Diz que me há-de aparecer!
Apareça-me ela hoje
Que amanhã posso eu morrer.
G da C»
Notas:
[1] LOURENÇO, Carlos Alberto Alves | Monografia da Freguesia de Arranhó | manuscrito dactilografado | 1976.
[2] Mondar, era a atividade de arrancar e limpar as ervas daninhas que cresciam nas fazendas.
[3] Escamisar, ou descamisar, era a atividade de retirar as folhas que envolvem a maçaroca do milho.
[4] abreviatura usada pelo autor e seu trabalho e explicada assim; “Gertrudes da Conceição (Estrudes Quita) nascida 1905”.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz