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Postal de Arranhó N° 101: “Arranhó e a sua história”

Legenda do documento:
1. In dei nomine hec esta carta venditionis et firmitudinis pperpetua quam iussimus facere, ego Jhoanes Pelagii et uxor mea Oraca Petri vobis conventum /
2. de Achellas de uua nostra hereditate quam habuimus in termino Ulixbona in loco qui dicitur Ranoo, in simalias de vale de Randufu. Ut ista sunt termini /
3. eius in oriente Dominus Zarco, in ocidente Dominus Petres, in aquillone Jhones Pelagii, in affrico Jhoanes Petri alfayate, vendimus et conce/
4. dimus vobis terra hereditate sicut determinata pro precio quid de vobis accepimus, scilicet, xxix morabitinos quia tantum nobis et vobis benne complacuit. Et de precio apud vos /
5. nichil remansit in debito pro dare habeatis vos ipsa hereditate usque in pperpetuum vobis et omnis posteritas vostra. Unde se aliquid venerit tam de vostri /
6. quam de extraneis contra hoc factum nostrum inrumpere voluerit quam contrarius inquiserit tantum in duplum componat et domino terre aliud tantum et vos ____ in consilio autorizare /
7. volverimus aut non potuerimus. Facta carta in mensse aprillis sub Era M CC LXXX, et nos suppra notarius qui hanc cartam iussimus facere coram idoneis mani/
8. bus nostras roboravimus et hec signa nostra facimus. Qui presentes fuerunt, viderunt et audierunt:
9. Dominus Simeon–testemunha Petrus Fernandi—testemunha
10. Dominus Martini– testemunha
11. Petrus Garcia ——testemunha Stephanus Dominici–testemunha

Martinus Durandi publico scripsit

(sinal público do notário)

O lugarejo de Ranhoo [1] é certamente anterior aos alvores da nacionalidade, habitado por uma população ligada à terra e onde se foram cruzando certamente ao longo do tempo várias influências culturais de povos que sabemos terem tido uma presença significativa na região da Estremadura: túrdulos, iberos, romanos, suevos, visigodos, moçárabes, judeus, cruzados, etc.

A presença cristã também terá estado presente desde muito cedo. De resto, os trabalhos de pesquisa do nosso amigo António Manuel Vale Pinto, designadamente o documento que apresentamos [2] permitiu-lhe avançar com a hipótese credível de que pelos termos deste contrato de venda de um terreno datado de 1242, Arranhó já era então reconhecida como uma comunidade cristã organizada e reconhecida como fazendo Parte do Termo de Lisboa.

O António Manuel Vale Pinto tem realizado um paciente e notável trabalho de pesquisa bibliográfica, incluindo o difícil estudo da disciplina de paleografia,[3] para conseguir identificar e interpretar textos medievais.

Partilhamos um pormenor do seu notável trabalho, neste caso o documento medieval com a sua translineação, [4] feito por um tabelião oficial de nome Martim Durando (ou Martinho Durão) [5] e na presença de cinco testemunhas, entre João Pelágio e Orraca Pedro que vendem ao Convento de Chelas, das Cónegas Regrantes de Santo Agostinho, uma herdade em Arranhó, Termo de Lisboa, no sítio de Simálias de Vale Randufe por 29 morabitinos. [6]

Claro que hoje não sabemos exatamente onde eram as “Simálias de Vale Randufe”, mas podemos intuir que estamos na presença duma fazenda agrícola bem trabalhada e produtiva com valor para justificar a sua aquisição. E também podemos pensar que para ter uma terra bem trabalhada (olival, seara, vinha, pomar, etc.) são necessários anos e a presença de mão de obra para realizar as tarefas ao longo do ano. O que seria já o caso no então lugarejo de Arranhó.

E com esta prova documental podemos remontar a antiguidade da comunidade cristã de Arranhó a 1242.

Notas:

[1] é até agora o nome mais antigo de Arranhó, encontrado em documento escrito, segundo António Manuel Vale Pinto, 2021.
[2] António Manuel Vale Pinto, 2021. Escritura notarial de Martim Durando, Lisboa, 242, Abril (ANTT, Cónegos Regulares de Santo Agostinho, Mosteiro de Chelas, mç. 15, nº 284; PT/RR/MCH/M15/284).
[3] a paleografia é o ato de decifrar escritos antigos, neste caso um escrito medieval em letra gótica.
[4] chama-se translinear ao mudar de linha ao escrever, dividindo uma palavra e escrevendo parte dela numa linha e a outra parte no início da linha seguinte.
[5] a curiosa assinatura do tabelião, com dois peixes, já foi objeto de publicação científica na Fragmenta Histórica, nº 5, revista do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2017.
[6] O Morabitino foi uma moeda de ouro cunhada no Reino de Portugal, durante o reinado de D. Sancho I.

#HistóriaLocal

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz