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Postal de Arranhó N° 099: “Rua 9 de Abril”

Toponímia arranhoense

A toponímia [1] desta rua tem uma história atribulada que nos poderá ajudar a todos a refletir e melhorar o procedimento de atribuição de nomes na freguesia.

Em primeiro lugar é preciso dizer uma evidência: aqueles terrenos são conhecidos há décadas como a eira dos Gageiros, porque foi ali que fizeram sua morada o António de Jesus Gageiro e a Silvina de Jesus Mateus; foi ali que eles viveram e criaram os seus sete filhos e também foi ali que a sua descendência se foi fixando e crescendo.

Recordemos agora alguns outros factos relevantes neste tema. Quando os filhos Gageiros se começaram a casar e a construir nos terrenos paternos, uns há beira da estrada outros mais no interior, tornou-se necessário tratar da toponímia, e, nesse momento gerou-se o primeiro equívoco: a Assembleia de Freguesia e a Junta de então resolveram também chamar à travessa de acesso “Rua 25 de Abril”…

Não foi uma boa decisão.

Entretanto, a vida evoluiu e porque surgiram oportunidades de construir novas vivendas em terrenos na encosta sul viradas para a magnífica panorâmica da serra de Alrote e do desfiladeiro de Bucelas, o caminho rural de acesso aos Gageiros e às courelas interiores foi arranjado, retificado e alargado.

Quando se colocou de novo a questão de dar um nome à “nova” rua, o Manuel Florindo da Eira, com a sua sabedoria e experiência de vida, procurou corrigir o primeiro equívoco acima referido, e sugeriu à Junta de Freguesia em funções que fosse escolhido um nome que lembrasse a família dos Gageiros, propondo mesmo homenagear em concreto o nome de José de Jesus Gageiro.

A proposta foi muito bem acolhida pelos autarcas de então, mas, depois, inexplicavelmente, a decisão da Assembleia de Freguesia e da Junta foi inapropriada, uma vez que foi mandada colocar uma placa toponímica com os dizeres: RUA 9 ABRIL…

Sensíveis aos reparos que lhes foram dirigidos de que designação da placa toponímica era ilegível, isto é, de difícil leitura e interpretação, a Junta de Freguesia procurou corrigir e mandou colocar uma nova placa com os dizeres:

RUA 9 DE ABRIL

(BATALHA DE LA LYS – 1918)

Ora sucede que esta segunda placa, que ainda lá se encontra, é um enorme equívoco.

E porquê? Por duas razões ponderosas.

Em primeiro lugar porque não homenageia, como pretendido, um conterrâneo parte daquela conhecida família arranhoense que ali vive há décadas.

Em segundo lugar, porque o arranhoense José de Jesus Gageiro, foi realmente militar, era soldado de engenharia, e foi de facto mobilizado e combateu na Primeira Guerra Mundial de 1914 – 1918, mas não morreu na famosa batalha de La Lys (7 a 29 de Abril de 1918) ocorrida na fronteira franco-belga, mas sim em África, e no ano anterior ao indicado da placa, foi a 9 de Janeiro de 1917. [2]

Sabemos que todo este equívoco não foi intencional por parte dos vários autarcas envolvidos, mas esta placa toponímica não cumpre o seu objetivo de evocar e homenagear um nosso conterrâneo.

Seria sensato corrigir esta situação e ponderar nas lições que se poderão retirar de todo este caso, pois a toponímia não deve ser negligenciada.

É desejável que a toponímia local se foque nas memórias locais: nomes das courelas e fazendas locais, nomes de arranhoenses notáveis, nomes de profissões e atividades locais, nomes de famílias, evocação de factos e tradições locais, etc.

Também é recomendável algum rigor na verificação dos factos e nomes escolhidos.

Esperamos com este postal da série sobre a toponímia arranhoense, ajudar a despertar e sensibilizar para a importância social e cultural de ter uma correta estratégia local de dar nomes às ruas, largos e praças da freguesia.

Notas:

[1] dá-se o nome de toponímia à escolha dos nomes de um sítio, dum lugar, rua ou localidade.

[2] informação registada no Memorial aos Combatentes do concelho de Arruda que participaram e faleceram na Primeira Guerra Mundial; inaugurado em 1929, e localizado junto do Hospital da Misericórdia de Arruda dos Vinhos.

#ToponímiaLocal

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz