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Postal de Arranhó N° 084: “Ruas com história”

Acreditamos que as novas gerações imaginem que a vila de Arranhó que hoje conhecem, toda ordenada, com nomes nas ruas, e, as casas com os respetivos números de polícia, terá sido sempre assim, mas não, essa é mesmo uma realidade relativamente recente.

Até meados dos anos 70, as ruas não tinham nome e toda a gente sabia onde morava cada um. E também é preciso recordar que Arranhó era uma aldeia com muito menos ruas e casas de habitação. Era um tempo em que muitas das casas tinham as paredes de pedra e argamassa à vista; as fachadas rebocadas eram muito poucas e localizadas sobretudo junto da estrada nacional. As ruas interiores da aldeia eram rudes, em terra batida e pedregosas, e os caminhos estreitos.

Até aos anos 60, a única placa sinalética a indicar estar-se em Arranhó, ficava localizada em frente das casas da Maria Frade, e do Augusto Assis, junto do muro da estrada nacional, fronteiro ao Lavadouro ou Rio das Mulheres.

O núcleo urbano de Arranhó estava então mais confinado em torno da estrada principal EN 115, entretanto designado de Rua 1º de Maio, e, pelas acuais Rua de São Lourenço, Rua 5 de Outubro, e Rua da República.

Podemos dizer por exemplo que, logo atrás dos prédios do lado norte da Rua da República já tínhamos as fazendas, as terras de cultivo, a Escola Primária ficava desviada depois das eiras.

A Rua da República, acabava então nas casas do António Rodrigues e Emília Pereira, e, a casa do Manuel da Eira, a partir daí começavam as fazendas, o “Bicareiro”.

Na atual Rua 25 de Abril, havia casario logo no início, na ligação com o Outeiro, e, depois, só havia um pequeno núcleo no Casal, e, mais “afastado” da povoação, nos Quatro Caminhos, haviam o Matadouro e a Estância de Madeiras do José Lopes.

O lugar de Ajuda já ficava “longe”… com muitas fazendas a separar.

Naquele tempo, as pessoas ao falarem entre si referiam-se aos vários locais de Arranhó usando curiosas designações tipicamente rurais, sejam os ancestrais nomes cadastrais das fazendas, sejam nomes dados pela população.

Recordamos aqui algumas dessas designações: “Russiu” (Rossio), “Ótêro” (Outeiro), “Bicarêro” (Bicareiro), “Espargal” (Espragal), Lameiros, Vale, Várzea, Galhofas, Chã, Murtais, Pedaço, Curral Martinho, Figueirinhas, Eiras, Mata, Curva do Arcena, Quinta do Arcau, Outão, Silveira, Cimo das Vinhas, Rio de Sapo, Alto da Cruz, etc.

Quando vínhamos de férias para casa do meu avô materno Manuel “Brincatudo”, era muito comum então ouvir todos estes nomes. Alguns deles ainda persistem hoje, porque foram felizmente recuperados pela toponímia local, isto é, pelos nomes entretanto escolhidos para as ruas. Sem muitas vezes terem pensado nisso, os autarcas acabaram por preservar este rico património identitário.

Hoje, não se dá muito valor a estes pormenores dos nomes, talvez por haver uma mentalidade de indiferença ou desinteresse pelos detalhes, talvez porque as pessoas já estão desligadas do mundo rural e das fazendas de família, ou talvez porque com a digitalização do cadastro predial este já classifica tudo com números, mas estes nomes antigos deviam merecer mais atenção de todos e uma vontade na sua recuperação e preservação, pois são um património cultural local não só significativo como singular.

#ToponímiaLocal

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz