Não nos surpreende que muitos pensem que Arranhó foi sempre assim como a conhecem. Mas não, não foi, até aos anos 70 a aldeia acomodava-se à beira da estrada nacional, e de dois eixos que já falamos noutros postais: o caminho que da estrada nacional seguia até à igreja paroquial, e o caminho que ligava o Rossio até à casa do Manuel da Eira.
O que permitiu então a aldeia crescer e expandir-se como mostra esta bela foto aérea?
Vamos procurar esclarecer os factos para não se perderem na poeira da indiferença e da ignorância.
Em Arranhó, como no resto do País, a revolução de 25 de Abril de 1974 conduziu à alteração das estruturas centrais e locais do Estado. E por cá foi designada uma Comissão Administrativa da Junta de Freguesia para cuidar das respetivas tarefas até à realização de eleições democráticas ,que só tiveram lugar a 12 de Dezembro de 1976.
Essa Comissão Administrativa era composta por:
António Raimundo Assis – presidente
José Firmo Rodrigues Soares – tesoureiro
Manuel Domingos Soares da Encarnação – vogal
e, ainda,
António José (do Manuel da Aldeia Velha) – secretário
António Raimundo dos Reis – Vogal
Na Arranhó daquela época, o entusiasmo das pessoas por fazer progredir a aldeia era imenso, e muitas iniciativas de ordem social e cultural iam tendo lugar, com destaque para o projeto da construção do novo edifício da SURA.
Foi neste ambiente que o presidente António Raimundo Assis recebeu, no início de 1976, uma notificação do IRA, Instituto da Reforma Agrária, de que iria chegar a Arranhó uma máquina proveniente do Porto Alto, para arranjar serventias e alargar caminhos.
Convém sublinhar que foi uma surpresa na Junta. Aparentemente, alguns arranhoenses tinham movido alguns conhecimentos e influências políticas durante o ano de 1975 para que Arranhó também beneficiasse do apoio dos muitos equipamentos das Forças Armadas e instituições estatais, que naquela época eram colocados ao serviço das populações locais. Como o modo como as coisas se passavam naquele tempo revolucionário era um pouco caótico, e na base de boas vontades, o assunto tinha acabado por cair no esquecimento.
Quando a dita notificação chegou colocando como condições Arranhó cuidar das refeições do manobrador da máquina, e, dos encargos com combustível… as ideias começaram logo a trabalhar na forma de tirar proveito daquela “sorte grande”!!!
O António Raimundo Assis, resolveu o problema da alimentação recorrendo à taberna do seu tio António Raimundo (António da Jaquina), e, o combustível, através da Câmara Municipal. Nesse tempo não havia dinheiro!
E, nessa altura nasce um sonho que virá a ser a obra mais importante e estruturante feita na freguesia: são abertos novos caminhos em Arranhó, Alcobelas, Ajuda e Arranhó de Baixo.
Foi uma tarefa àrdua e histórica, pois o António Assis idealiza a abertura de novos caminhos onde antes apenas haviam serventias rurais precárias e sazonais “de Sant’ Ana a São Martinho”…. o que os obrigou a falar com os proprietários das fazendas e courelas e convencê-los da bondade da abertura dos caminhos… é claro que nem sempre foram pacíficos os diálogos, mas o entusiasmo do presidente e a ajuda dos outros elementos da Comissão Administrativa lá foram permitindo, com muita diplomacia e persuasão, pôr em marcha um sonho que eles não tinham certamente total consciência do alcance: rasgar os novos caminhos, e assim abrir novos horizontes!
Atrás da máquina, o António Assis orienta o manobrador pelo meio das fazendas e serventias, e a máquina foi abrindo os novos caminhos que são hoje ruas florescentes e essenciais na urbanização e na mobilidade arranhoense.
Para terem bem a noção do progresso então semeado, referimos alguns dos novos caminhos tornados entretanto em ruas:
Rua do Espargal
Rua da Várzea
Rua da Galhôfa
Rua dos 4 Caminhos
Rua Nova
Rua da Chã
Rua da Primavera
Rua do Arcau
Rua do URDA
Rua do Rossio
Rua das Eiras
Rua da Igreja
Rua da Bica da Mata
Rua da Agueira
Rua 5 de Outubro (prolongada)
Rua das Figueirinhas
Como se pode constatar foi um trabalho notável que transformou totalmente a face de Arranhó, dotando-a de excelentes infraestruturas. Estas novas ruas favoreceram o crescimento da construção de novas habitações, e a instalação de negócios.
Ainda ficaram alguns caminhos por abrir, como por exemplo um no Vale, ligando Ajuda-Arranhó; e outros, bem ambiciosos, não chegaram a ser mais tarde asfaltados, como é o caso do caminho de ligação Arranhó-Alcobelas. Este último seria nos dias de hoje bem interessante de recuperar.
É justíssimo que esta obra não caia no esquecimento das novas gerações, e, pelo contrário, seja devidamente reconhecida e valorizada publicamente. E que também os seus intérpretes não sejam esquecidos, pois o seu serviço e empenho pelo bem comum, continuam hoje um exemplo notável e inspirador.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz