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Postal de Arranhó N° 058: “Diciunairo saloio D-Z”

Completamos a apresentação duma pequena amostra de termos populares muito usados no dia a dia da aldeia de Arranhó e na nossa região saloia.

A identidade arranhoense também está muito associada a esta oralidade, que predominou durante muitas décadas, através duma forma popular de pronunciação das palavras muito característica: na prática, devido à fraca escolaridade ou mesmo analfabetismo, as pessoas falavam tal e qual conforme ouviam ou percebiam o que outros diziam.

D
dansde – desde
destrocar – trocar
dótor – doutor

E
ênha – minha
entulhar – encher ou enjoar
escalhambrado – esquisito
escangalhado – estragado, avariado
esmagrecer – emagrecer
esmingalhar – desfazer
esmorecer – desmaiar
erecêra – Ericeira
estapour – estupor
estragação – uma coisa estragada
esvorciado – divorciado

F
famila – família
fanado – doente, adoentado
fanico – desmaio
figorifo – frigorífico
fourem – vão
forfo – fósforo
fotada – bofetada

G
galôcho – galo
gomitar – vomitar

H
hóme – homem

I
imbigo – umbigo
imbobadar – embriagar-se, embebedar-se
imbulançia – ambulância
impestoreca – mulher hipócrita
Ingibas- gengivas
Inha abóua- a minha avó

J
judiar: gozar com

K
kodak – uma máquina fotográfica

L
letcidade – electricidade
liunga – língua

M
mabaria – uma avaria
malão – melão
manchita – quantidade pequena
mancheia – quantidade grande
mê – meu
mecê – você.
memoira – memória
menhér – mulher
menza – mesa
mijacêra – resíduos líquidos do esterco
migalheriro – mealheiro
miolêra – cérebro, miolos
moiral -pastor
molênga – molengão, preguiçoso
moléstia – cansaço, preguiça
morengos – morangos
murdalhona – pessoa pouco asseada

N
nabêra de ser – não havia de ser
natem creto – não tem crédito, não tem pretendentes
neubuêro – nevoeiro
nha – minha

O
ócalipes – eucaliptos
ócalipal – eucaliptal
órina – urina
opois – depois
orbalhêra – orvalho
orimêro – ulmeiro
ospois – depois

P
paito – páteo
panteminêro – aldrabão, demagogo
peneirento – vaidoso
penhêros – pinheiros
pial – poial, armário de cozinha
pilante – malandro
pingalhar – chuviscar
pintêlho – pequeno
pirum – perú
piscalhar – piscar os olhos
pliça – polícia, guarda
pra – para
pranta, ou panta – ponha, coloque
précurar – perguntar
priga – rapariga
pudéra – pois claro!
puta – forma de difamar, desprezar
precisão – necessidade

R
retratista – fotógrafo
reuga – régua
resóltado – resultado
rio – os lavadouros públicos

S
Santiauga – Santiago dos Velhos
senhorico, senhorito – um habitante da cidade
sinoulha – cenoura
standér – loja de automóveis
subejar – sobrar
suturno – tempo encoberto

T
tauba – tábua
Tarruje – Terrugem
tasme a catricar – estás a criticar-me
terminar a vida – decidir, planear a vida
ti – o mesmo que senhor, senhora
tisoira – tesoura
tocador – músico
toicinho – toucinho

V
véi – ver

Z
zêtouna – azeitona
Havia ainda muito outro vocabulário específico, entretanto em desuso ou mesmo perdido, ligado a algumas tarefas domésticas, à actividade agricula, e, a artes e ofícios extintos em Arranhó, como foi o caso dos ofícios de moleiro, ferreiro, ferrador, ou sapateiro.
A concluir esta pequena compilação juntamos uma história divertida partilhada pela Fátima Domingos: «ouvi a história de uma senhora que sempre teve vergonha de divulgar o seu verdadeiro nome, ao que me contaram na altura. O padrinho na hora de dar o nome à criancinha, disse ao escrivão: – “Olhe, prante-lhe Ana!”
e a infeliz ficou batizada de Prantelhana até morrer…
Enfim, história ou não, ouvi-a da boca do meu querido bisavô José Pedro (Zé Preto para a maioria).»

#UsosCostumes

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz