Gostamos de ouvir as pessoas, juntar as informações, e assim conhecer melhor a terra de meus antepassados. Hoje, escolhemos falar do Rio da Silveira e de alguns aspetos que provavelmente serão novidade para muitos.
Este ribeiro de Arranhó passa facilmente despercebido nos dias de hoje. O afastamento das atividades agrícolas e a distribuição doméstica de água potável, faz as gerações mais novas perderem a noção da importância deste curso de água.
Por isso é bom recordar que este ribeiro continua a ser um dos primeiros braços da ampla bacia hidrográfica do conhecido rio Trancão, afluente do Rio Tejo.
Depois, sugerir um olhar atento à orografia da nossa zona, para dar conta que esta pequena ribeira, acolhe ao longo do seu percurso, o escorrimento das águas subterrâneas do vale de Camondes, das encostas do Janeiro, da Galhôfas e do Vale, dos Murtais, da Serra de Alrote até chegar às “Juntas do Rio” onde se une à Ribeira dos Matos que atravessa as Alcobelas, passando então a chamar-se Rio Pequeno encaminhando-se para o rio Trancão em Bucelas.
É importante perceber, até para tomar consciência das alterações ambientais, que esta ribeira foi muito relevante no passado arranhoense, no tempo em que havia muita fartura de águas subterrâneas na nossa região.
Certamente que foi essa fartura de água que ajudou à fixação das primeiras famílias nos lugarejos medievais que tomaram o nome de Arranhol de Cima e Arranhol de Baixo, e permitiu desenvolver a agricultura local em legumes e hortaliças, na vinha e no olival, nos cereais.
Daí acharmos relevante recordar vários factos locais que testemunham a importância desta nossa ribeira.
Desde logo, a instalação de famílias que fizeram suas moradas formando pequenos aglomerados nas proximidades do ribeiro: Arranhol de Cima, Arranhol de Baixo, Quinta do Paço. E também a casa da famosa Quinta do Arcau.
Mas há ainda outros factos igualmente interessantes sobre esta ribeira que começam a correr o risco de cair no esquecimento.
O caudal do Rio da Silveira era tão rico naqueles tempos que, ainda nos anos 60, as mulheres iam lavar a roupa nas suas margens no “rio das patas”, na zona do Outão ou Lugar d’Além.
A água era tão abundante que permitia a subida de enguias pelo rio acima até à zona da Quinta do Paço, onde ainda nessa época muitos homens se deslocavam para as apanhar e fazerem os seus petiscos.
Outro sinal da abundância de água noutros tempos, que muitos nem imaginam, foi a existência no Rio da Silveira de duas azenhas para moer cereais: uma do Joaquim Custódio, na Quinta do Paço, no fundo do caminho que parte das suas primeiras casas; outra, na direção da Quinta da Fonte Cepa, que era do António José Frade.
Embora o caudal de água seja hoje muito mais reduzido, e o ribeiro esteja escondido por fartos canaviais, e, os acessos se encontrem abandonados e cheios de mato, está ali uma área muito bela e desconhecida de muitos.
Temos pena que o desconhecimento esteja a levar ao completo abandono do Rio da Silveira, e ao esquecimento da sua relevância para Arranhó.
Se se vier a concretizar uma ideia recente de criar um percurso pedonal nas suas margens, seria de todo inteligente a autarquia colocar painéis com informação alusiva a estes factos da nossa história e património local para valorizar e enriquecer a cultura dos visitantes.
Só se pode proteger o que se conhece e quando se reconhece a sua importância.
#PatrimónioLocal
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