O povo de Arranhó é conhecido pelo seu laborioso empreendedorismo. É uma cultura assente numa longa e antiga história de resiliência face a uma vida muito dura e difícil, que nos dias de hoje poderá a muitos parecer fazer parte dum passado longínquo.
Uma das memórias que retenho como marcante quando vinha de férias a Arranhó para casa de meus avós nos anos 60 e 70, era a surpresa de ver os miúdos da minha idade ou mais novos a “trabalharem” junto com os pais que os deixavam “manobrar” as suas máquinas de trabalho ou “conduzir” as camionetas.
Hoje, compreendemos bem que aquela era uma autêntica escola de vida, de grande importância para envolver os filhos nos valores mais essenciais de “meter as mãos na massa” e aprender a valorizar bem cedo “o que custa a vida”. É por essa razão que tanto gostamos desta bela foto do João Romana de Além em 1978 a trabalhar no seu estaleiro de sucata acompanhado dos seus filhos: o João Carlos, o Vítor, e o Nélson.
Não há muitos registos fotográficos desta cultura arranhoense de envolver os filhos e os preparar para enfrentar os desafios da vida, mas era uma atitude muito comum em Arranhó, mesmo depois de 1974 quando se democratizou o ensino público, nas férias os pais traziam os filhos consigo quer nos estaleiros em Arranhó, quer nas camionetas a percorrer o País a comprar e vender palha, batatas e cebolas, frutas e legumes.
É certo que nos dias de hoje se difundiram outros hábitos e mentalidades mas continuamos a reter o que nos confidenciava na sua octogenária sabedoria de vida o amigo Augusto Reis: «O ter faz cobiça, e o não ter faz preguiça». E também os seus filhos o Casimiro e o Francisco, tiveram a mesma “escola” de vida e percorreram consigo os duros caminhos do comércio ambulante pelas ruas da capital e seus arredores.
E foi assim que foi moldado o mais genuíno modo de ser arranhoense.
© DIREITOS RESERVADOS, Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz