Esta foto fez-me recordar pormenores curiosos que eu vinha encontrar em criança quando vinha visitar a família na aldeia de meus pais, Arranhó.
Hoje já não se usa esta peça, mas era uma chamada leiteira, um recipiente de alumínio com que as pessoas iam comprar leite avulso. Na capital, começava a vender-se leite fresco engarrafado em garrafas de vidro, mas na província era ainda comum a venda de leite avulso.
É oportuno recordar que nos anos 50 e 60 a produção leiteira era ainda um trabalho de pessoas humildes. Possuía-se uma, duas, meia dúzia de vacas, que davam um pouco de leite para a família, e o excedente era vendido ao público directamente.
Na aldeia de Arranhó assim sucedia, cedinho os donos procediam ao mungir [1] manual das vacas no seu estábulo, recolhiam o leite fresco em vasilhas de alumínio de 15 a 25 litros, [2] e depois vendiam ao público em suas próprias casas.
As pessoas levavam consigo uma vasilha leiteira como na foto, ou outro recipiente que tivessem, e compravam avulso a quantidade que precisavam. O leite era retirad do vasilhame com uma medida de capacidade, em alumínio.
Fui muitas vezes com as minhas tias maternas comprar leite assim, e, mais crescidote cheguei a ir sozinho fazer esse mesmo recado. Era então uma forma dos pais ensinarem os filhos a ganhar responsabilidade e autonomia.
Lembro-me do cheiro característico, da nata e da espuma do leite ainda quente dentro das vasilhas.
Aproveito este postal para evocar duas casas e duas famílias arranhoenses que viviam próximo da casa do meu avô materno, eram fornecedores de leite na aldeia e nos deixaram gratas recordações: o sr. Manuel Luis Botelho Rodrigues e a esposa Maria Joaquina Rosa Machado, e, o sr. António Rodrigues e a sua esposa Emília Pereira.
Naquela época as suas casas ficavam numa ponta da aldeia, juntamente com a casa do sr. Manuel da Eira. Depois delas já só haviam courelas.
Outras pessoas também quiseram partilhar connosco as suas recordações. O António Manuel Vale Pinto disse: «Na Ajuda tínhamos a Ti Matilde e Ti Águeda». O Rui Firmino disse: «Também me lembro desses tempos… e de ir também a uma Sra. que morava no início da (actual) rua da Galhofa que não me lembro do nome… (Ti Silvina)».
Notas:
[1] Mungir, extrair o leite da teta da vaca.
[2] dava-se o nome de Ferrada a estas vasilhas de extração do leite.
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© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz