Domingos Sousa Luis e Judite Raimundo Fabião
Apresentamos a terceira história desta nossa série sobre os nossos conterrâneos que arriscaram deixar a sua casa e procurar uma vida melhor no estrangeiro. [1]
Vamos falar do Domingos e da Judite e da sua história tão rica e inspiradora. Para isso socorremo-nos também dum bonito trabalho da Mariana Encarnação. [2]
Depois de casados, o Domingos e a Judite fizeram sua morada no Outeiro, onde tiveram três filhos – o Domingos, o Jorge, e o João -, mas a vida em Arranhó era naquela época muito pobre.
A saída de Portugal foi voluntária e um dos motivos pelos quais a Judite e o Domingos queriam sair do País, era a sua preocupação que um dos seus filhos fosse enviado para Angola para combater na guerra [3], essa foi a principal razão que os levou a deixar o país em 1966.
Eles saíram de Portugal de uma forma legal.
O Domingos trabalhava numa companhia industrial de madeira localizada no Sobralinho, em Vila Franca de Xira.
Ele queria sair de Portugal para proporcionar uma vida melhor à sua família, e por isso falou com o seu gerente que lhe prometeu
arranjar uma forma de conseguir o passaporte para ele poder sair de Portugal. Recordamos que naquela época, era preciso ter uma razão de trabalho, e um passaporte, para sair do País.
E assim foi, o gerente arranjou-lhe um passaporte para ele usar para ir a uma feira onde se vendiam máquinas em França.
Depois de ter ido a França, o Domingos decidiu que era para lá que queria levar a sua família, um sítio onde não existia guerra, pelo menos naquela altura.
Então enfiaram-se num comboio a vapor e lá foram eles com destino a uma pequena cidade, Saint-Marcellin, na região da Auvérnia-Ródano-Alpes, departamento do Isére; para eles foi
muito bom para desenvolverem a língua francesa e fazer novas amizades, para não falar que naquela pequena cidade a
vida era muito melhor e mais fácil que em Portugal.
Em 1972, o Domingos e a Judite emigraram para a Austrália, em Bayswater. E em 1981 abraçam um novo desafio e emigram para os Estados Unidos da América, para Newark, só regressando a Portugal, a Vila Franca Xira, em 1991 já reformados. No seu percurso o Domingos foi trabalhando em carpintaria, e, a Judite, como operária em várias fábricas quer em França quer na Austrália.
O amor à sua terra e origens fez o Domingos e a Judite regressarem anualmente a Arranhó. Mesmo na distante Austrália, eles chegaram a fazer uma viagem de um mês no navio Galileo para visitarem Portugal.
É relevante realçar que o Domingos e a Judite eram cristãos evangélicos em Arranhó, e vieram a encontrar um inestimável suporte de acolhimento quer na comunidade evangélica de Saint Marcellin, quer em Bayswater, ou elpm Newark. A Judite faleceu em 2000, e o Domingos em 2020.
Esta é uma história de vida resiliente e apaixonante.
Os três filhos do Domingos e da Judite também fizeram pela vida. O mais velho, o Domingos, constituiu família, trabalhou em França, e depois na Alemanha. O do meio, o Jorge, de França rumou a Inglaterra, e mais tarde para a Austrália onde constituiu família e reside. O mais novo, o João, acompanhou o roteiro emigrante dos pais até aos EUA, tendo-se fixado e constituído a sua família em West Palm Beach, na Flórida.
Queremos deixar um agradecimento especial ao João Baptista Fabião de Sousa pela sua preciosa colaboração para nos permitir fazer esta pequena evocação e homenagem a esta bonita família arranhoense.
Não seria nada despropositado Arranhó tomar a iniciativa de criar um memorial aos seus Emigrantes no centro da vila, reconhecendo a sua valia e agradecendo o seu trabalho.
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Notas:
* Os emigrantes portugueses dos anos 60 ficaram conhecidos como os emigrantes da “mala de cartão”, um modelo característico de mala de viagem da época. Este movimento ficou imortalizado pela famosa cantora emigrante Linda de Suza em vários temas designadamente no sucesso “La Valise En Carton”.
[1] Maria Ioannis Baganha, As correntes migratórias portuguesas no século XX e o seu impacto na política nacional, Análise Social, n°XXIX (128), 1994.
[2] Mariana Encarnação, Movimentos Migratórios, trabalho na disciplina de Geografia.
[3] Guerra do Ultramar, mais tarde chamada guerra nas Colónias, 1961-1974.
[4] foto do Domingos e da Judite felizes, recordação dos tempos de Newark, New Jersey, USA.
#EmigraçãoArranhoense
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz