António Fernando dos Anjos Coelho e Maria Albertina da Silva Coelho
Nesta série procuramos preservar algumas histórias de vida de emigrantes arranhoenses, que arriscaram deixar a sua casa e procurar uma vida melhor no estrangeiro. [1]
Foi o caso do António Coelho (n.1939) e da Maria Albertina (n.1941).
Depois de casados, ainda estiveram a viver em Lisboa, depois ele veio trabalhar para a firma Celestino Almeida Dias em Arruda dos Vinhos.
Como o António não via a vida a progredir, decidiu-se a ir inscrever-se nos Serviços de Emigração, na altura localizados em Alcântara.
Deixando a esposa com o filho em Arranhó, em 1965 partiu de comboio a caminho de Munique, na Alemanha. Nesse ano saíram de Portugal 91’488 emigrantes, dos quais 12’197 para a Alemanha. [2]
O destino do António era um contrato de trabalho na famosa fábrica de camiões pesados MAN, abreviatura de “Machinenfabrik Augsburg Nurnberg”.
Jovem e trabalhador, mostrou potencial numa fábrica que nessa época já acolhia inúmeras nacionalidades, turcos, gregos, espanhóis, portugueses. Naquela época os alemães chamavam-lhes “cigoinos”…
Como a integração dele foi boa, a Maria Albertina partiu um ano depois com contrato de trabalho, deixando com o coração afligido o seu filho Paulo Fernando ao cuidado da avó materna.
Naquela época, o esforço de reconstrução na Alemanha devastada pela derrota do nazismo era muito intenso, e o jovem casal procurou instalar-se e fazer pela vida naquele país próspero e progressivo.
Foram viver para a cidade de Allach-Untermenzing, a noroeste de Munique, e nas proximidades da fábrica da MAN.
Como sucedia com todos os emigrantes, o jovem casal “lutou pela vida”, ele como operário na Chaparia da MAN, ela como operária em várias fábricas locais: uma de processamento de batata, depois numa de confecções, e depois ainda numa de estores.
Desde o princípio, com humildade e muita força de vontade, procuraram integrar-se na comunidade local, aprender o alemão básico, fazer amigos, sempre focados em poupar dinheiro para vir a concretizar mais tarde os seus sonhos em Portugal.
Na Alemanha, encontraram uma sociedade evoluída, com hábitos e comodidades, que em Portugal ainda eram uma enorme novidade para a maioria da população.
Eram naturalmente tempos difíceis e de saudades da família, de Arranhó, e de Portugal, que só podiam visitar anualmente num período de seis semanas em Agosto e Setembro. A viagem de automóvel era de 2420 km, mas poder rever a família e participar nas festas anuais era na época muito retemperador para quem estava emigrado lá longe.
O António e a Maria Albertina estiveram 10 anos na Alemanha, lá tiveram o segundo filho o João Manuel, lá laboraram no duro bem integrados na sociedade alemã fazendo mesmo alguns passeios a conhecer a Europa central.
Este casal, como muitos outros, tiveram um papel económico significativo para o Portugal naquela época, devido ao volume de poupanças que enviavam para o seu País e que eram chamadas “Remessas da Emigração”.
E assim Arranhó viu os seus conterrâneos investirem localmente na sua bonita casa nova, e depois regressarem para a sua terra e aqui se estabelecerem com o seu negócio.
Um agradecimento à generosidade da Maria Albertina, que nos fez o favor de partilhar connosco as suas memórias e recordações de vida para conhecimento das gerações futuras.
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Notas:
* Os emigrantes portugueses dos anos 60 ficaram conhecidos como os emigrantes da mala de cartão, um modelo de mala de viagem característico da época. Este movimento ficou imortalizado pela famosa cantora emigrante Linda de Suza em vários temas designadamente no sucesso “La Valise En Carton”.
[1] Maria Ioannis Baganha, As correntes migratórias portuguesas no século XX e o seu impacto na política naconal, Analise Social, n°XXIX (128), 1994.
[2] idem anterior
[3] foto do António e da Maria Albertina tirada na época. A amiga é a Noémia do César.
#EmigraçãoArranhoense
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz