A migração arranhoense – General Instrument Lusitana, SARL
Como é sabido, nos anos 50 em Arranhó são muitos os arranhoenses que têm que se deslocar para a capital à procura de uma vida melhor, e nos anos 60, acontece mesmo a emigração para a França e Alemanha.
Nessa época, a vida em Arranhó estava estagnada e o ambiente de ruralidade que então imperava só começou a alterar-se com o período conhecido como “Primavera Marcelista” que se iniciou em 1968.
De facto por essa altura ocorre um facto socialmente relevante no concelho, que gostaríamos hoje de evocar. Foi a instalação na Quinta de São João, em Arruda dos Vinhos, duma unidade fabril duma multinacional: a General Instrument Lusitana, SARL, uma subsidiária da General Instruments Corp, de Nova York.
Na linguagem comum ficaria conhecida por: a “Fábrica de Arruda”.
Esta foi uma grande novidade, pois abriu uma alternativa de vida a centenas de raparigas cuja perspectiva de futuro era tornarem-se “donas de casa”, e agora poderiam aspirar a ter um emprego e um salário.
Aquela unidade fabril propunha-se fabricar componentes electrónicos para televisores para exportação para os então países da CEE e da EFTA. Para isso, tinha um modelo de produção em série requerendo mão de obra intensiva não muito qualificada e de baixo custo.
Consequência disso precisava de muita mão de obra, e assim foram recrutadas imensas jovens do concelho, também da freguesia de Arranhó (a Clotilde, a Elvira, a Maria do Céu) e da freguesia de São Tiago dos Velhos (a Zulmira Cardoso, a Mercedes Ferreira, a Claudina, a Maria, a Serafina, a Cesaltina, a Lourdes, a isaura). Como era habitual na época, eram admitidas raparigas muito jovens. com 12-14 anos, umas com a instrução primária concluída, outras nem isso.
A admissão numa empresa industrial abriu os horizontes a todas aquelas raparigas, a sua integração num modelo de trabalho em série levou-as a conhecer a lógica do trabalho colectivo e as regras rígidas de trabalho com medição de tempos e exigências de comportamento.
Pelo que temos escutado de alguns depoimentos, o ambiente de trabalho era de grande união, mas também de grande exigência laboral e mesmo autoritarismo. A juventude das trabalhadoras nem sempre se ajustava bem com as regras de disciplina exigidas e com o autoritarismo vigente, como por exemplo de não poder conversar no posto de trabalho, ou de de não permissão de se ausentar do posto de trabalho para ir urinar.
A memória recorda como supervisoras, a Clotilde, de Arranhó, e a Rosa Maria.
Como era comum na cultura empresarial americana, a empresa tinha uma componente social, através dum refeitório e bar para as colaboradoras, e a realização de festas de empresa e reconhecimento de colaboradores. Por exemplo ficou na memória uma festa realizada no Hotel do Vimeiro.
Da memória ficou retido que o refeitório estava concessionado ao senhor António José da Arcada do Sobral de Monte Agraço, e o bar a um cunhado daquele.
Em 1978 a empresa alterará a sua designação para DCP – Produtos Industriais SARL, e, além de fabricar, construir e montar sistemas electrónicos e suas peças , alargou a sua actividade a componentes hidráulicos e pneumáticos para a indústria automóvel, e ainda ao fabrico de sapatos de senhora de alta qualidade.
Muito há por guardar das memórias da “Fábrica de Arruda” e das pessoas que por ela passaram, pois foi o sustento de muitas famílias, e teve um papel relevante na história contemporânea do concelho e na vida de muitas das suas colaboradoras e colaboradores.
Mobilidade Arranhoense
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz