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Postal de Arranhó N° 353: Aqueles bolsos da camisa

Respigando nas minhas memórias de quando vinha visitar a casa de meus avós, recordo desta vez um costume dos homens arranhoenses pela década de 70.

Ao domingo, habitual dia de descanso, os homens tinham o hábito de se juntar a conversar debaixo do velho choupo, ou de ir jogar “à bisca” ou ao dominó na taberna do “Tônho da Jaquina”.
Ora nesses encontros ocorria uma originalidade que impressionava. Muitos homens apresentavam-se com a camisa com dois ou três botões desabotoados, e meio tombada, devido ao peso de um volumoso maço de notas que ostentavam no bolso da camisa.

Aqueles bolsos com um enorme maço de notas seriam hoje escandalosos, mas à época, eram apenas um gesto de bravata masculina, um sinal de pertença e de identidade num grupo bem sucedido, uma demonstração de que a semana de trabalho embora dura, tinha sido compensadora.

Naquela época a exibição do bolso forçado sob o peso do largo maço de notas dava aos próprios uma sensação de autoestima e porventura de vaidade.

Eram assim aqueles tempos.

O século XX foi para Arranhó uma autêntica montanha russa social e económica: até aos anos 30-40 viveu a pobreza envergonhada e a miséria; nos anos 50-60 conheceu uma vida remediada, como então se dizia; nos anos 70-80 viveu momentos de esplendor; acabando nos anos 90 a conhecer o abismo das insolvências e da crise económica e social.
Foi dura a história comunitária contemporânea, e isso porventura ajudará a entender melhor a mentalidade arranhoense, forjada no quotidiano da vida.

#UsosCostumes

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz