Este fontanário histórico foi um dos mais importantes na rede de abastecimento de àgua potável à população da aldeia de Arranhó.
Felizmente tem sobrevivido à passagem do tempo, e à sua substituição pela rede pública de àgua canalizada nas habitações. Têm ajudado à sua preservação algumas intervenções de conservação da autarquia neste interessante equipamento.
Para que se mantenha uma cultura de preservação e cuidado recordamos aqui o que escreveu sobre esta fonte o conterrâneo Carlos Alberto Alves Lourenço na sua Monografia da Freguesia de Arranhó:
«Está localizada a cerca de quarenta metros da estrada nacional, precisamente no fundo da rua Vasco José Ferreira Lourenço. A fonte fica na parte baixa, o que tornava a saída extraordinariamente difícil para qualquer animal que puxasse a carroça que dali levasse água para as eiras, para lavar os barris, para a aguapé ou para a construção de qualquer casa. Difícil pela inclinação da calçada, difícil pelo polido das pedras.
A fonte, como pode ser vista na fotografia, é constituída por dois corpos. No primeiro, à esquerda, está uma bica de pedra, original segundo se crê, por onde já não corre àgua. É um tubo de ferro com o diâmetro de 10 centímetros que veio substituir as funções da bica de pedra, após as obras que se fizeram, quando foi necessário pôr-se a descoberto a canalização até ao depósito que está sob as casas que foram do José da Silva Raimundo, mesmo no início da rua do Rossio. Aliás, o fio de água foi posto a descoberto até à rua de São Lourenço, desconhecendo-se por completo o seu trajeto até à origem, que se pensa esteja sob as casas do José Caetano.
Sabe-se que quando era lavado um tonel à esquina da rua 5 de Outubro com a rua de São Lourenço, essas mesmas borras iam aparecer na àgua que saía pela bica.
De início o fio de àgua era encaminhado com telhas, actualmente no percurso levantado é um tubo de ferro.
Tal como na Fonte da Arca, também aqui a saída é livre, sem torneira nem depósitos de acumulação a montante, característicos das fontes de então.
O corpo onde está a bica, neste caso duas, é formado por duas paredes no cimo das quais há uma pequena cúpula. Neste mesmo corpo, o da esquerda, o depósito de aproveitamento de água quando está cheio transborda para o da direita através dum tubo ladrão.
Este segundo depósito é constituído por várias pedras gatadas, como normalmente se faziam em todas as fontes dessa época.
Gravado numa pedra a meia altura no murete da esquerda existe a seguinte inscrição.
“UTILIDADE PU
BILICO 1827″
As duas primeiras linhas não deixam dúvidas absolutamente nenhumas – Utilidade Publica 1827, o mesmo se não dizendo de uma terceira praticamente indecifrável.
Dois factos parecem comprovar a citada lápide de tosca pedra: que terá inicialmente pertencido a entidade privada, à família Abegão, aliás de cujos familiares ouviram falar aos seus antepassados nesse facto; ser a Fonte da Arca possivelmente não no sítio onde está, a mais antiga da povoação ao serviço da população em geral. Ao que parece transparecer, até 1827 a povoação teria uma única fonte pública.» [1]
Com este postal esperamos incentivar entre os arranhoenses o gosto pelo património local e pela preservação e valorização das antigas fontes do núcleo urbano de Arranhó (Arranhó, Ajuda, Quinta do Paço e Arranhó de Baixo). Constituem um belo património natural com muita história.
Só se pode preservar o que se conhece.
Notas:
[1] LOURENÇO, Carlos Alberto Alves | Monografia da Freguesia de Arranhó | manuscrito dactilografado | 1976.
#RotaDaÁgua
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz