Era muito exótica e ao mesmo tempo muito querida esta nossa recordação de criança nascida na capital ao ser confrontada com a experiência de dormir em colchões de palha em casa dos avós, em Arranhó.
Por Arranhó era usada para os colchões das camas a palha das camisas das maçarocas do milho, vulgarmente conhecida por “caroupela”.[1]
Quem não tinha searas de milho, depois das colheitas, de manhã cedinho, enquanto o milho ainda estava “macio”, ia, com outras mulheres, ajudar vizinhos ou familiares a descamisar/ desfolhar as maçarocas de milho nas eiras, e em troco traziam sacas de caroupela nova.
Os colchões eram de tecido às riscas coloridas e tinham uma abertura em cima por onde se “mexia ” frequentemente a caroupela para ficarem mais altos e macios (e ruidosos). A não ser mexida a caroupela o colchão ficava duro e a cama toda torta!
Em muitas casas dormia-se no chāo até chegar a festa de Ajuda, para as camas estarem bonitas e fofinhas para a ocasião.
Até aos anos 70 ainda era possível ter em Arranhó esta experiência muito agradável.
Os colchões de palha eram o sinal duma época ambientalmente mais sustentável, embora socialmente mais pobre.
Este postal foi possível pelas preciosas contribuições do Jorge Raimundo, da Olga Luis, da Adelaide Assis, da Maria Isabel Frutuoso, do António Raimundo Assis, e da Zulmira Ferreira, a quem muito agradecemos.
Notas:
[1] Caroupela é uma corruptela de carpela, nome dado ao folhelho
[2] Foto retirada da internet
#HábitosTradições
© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação de José M. Ferreira Luiz