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Postal de Arranhó N° 337: Aos Domingos à tarde

Guardamos muito boas memórias do ambiente familiar vivido na aldeia de Arranhó doutros tempos.
E vale a pena relembrar esses domingos à tarde, não por saudosismo passadista, mas porque pode ser muito inspirador para clarificar e dar resposta aos desafios que se colocam entre nós neste primeiro quartel do séc. XXI.

Nos anos 60 era muito comum em Arranhó a família se reunir ao domingo à tarde, na casa do casal patriarca.
Irmãos, noras, genros, netos, cunhados e cunhadas, velhos e novos, todos se juntavam numa festa do encontro, da união e da partilha, do convívio familiar duma vida humana comum.

Este tipo de tradição familiar gerava uma cultura de diálogo e união que se estendia a toda a comunidade. Era muito bonito ver como as pessoas tinham gosto em se encontrar e estar juntos, num saudável convívio intergeracional, que proporcionava grande diálogo e compreensão mútua. Os patriarcas eram objecto de admiração e respeito, de inspiração na união e sentido de pertença. Crescemos observando e vivendo em várias casas de família este ambiente fraterno que se comunicava ao ambiente na rua.

E foi assim em muitos lares até à entrada da década de 80.

Entretanto, fomos assistindo em Arranhó a uma progressiva mudança social, assente num crescente individualismo e no enfraquecimento dos laços familiares e de vizinhança. As pessoas já não se juntam como então e pouco convivem.

Dos hábitos rurais, onde todos se saudavam na rua, se reconheciam parentes, e se conheciam pelo nome completo, foi-se instalando o isolamento social, onde já não se dão os bons dias, não se olha nos olhos o outro, onde não ocorre muita interacção, acabando cada um se fechando na sua concha em casa.

Toda esta alteração social foi sem dúvida muito acentuada pela crise gerada pela falência danosa da empresa ‘Frutar – Frutas de Arranhó’, que gerou uma clara decadência social na vila de Arranhó.

Reolhar o passado, em particular redescobrir que somos uma família de famílias, poderá ser um caminho para recuperar a confiança perdida, para reconhecer que todos precisamos de laços de empatia, para reestabelecer laços de união e partilha, para recriar um convívio saudável em torno do bem comum. E está nas mãos de cada um percorrer, ou não, esse caminho.

Aquelas tardes de domingo eram muito bonitas e inesquecíveis, passadas junto de avós, tios e tias, primos e primas; e não há razão para serem remetidas para o esquecimento e a indiferença, pelo contrário, acreditamos na importância de revalorizar os casais patriarcas, de retomar caminhos do encontro e do convívio familiar à mesa, de cultivar a proximidade e a fraternidade.

#UsosCostumes

© Direitos Reservados, Reprodução Proibida | Arranhó Memória e Gratidão, compilação e foto de José M. Ferreira Luiz